Por Jornal Nacional
Foto: Reprodução/TV Globo
Empresas fornecedoras de produtos e serviços para a Ford já sentem os reflexos da decisão da montadora de encerrar as atividades nas suas fábricas brasileiras.
Pátio vazio. Os últimos veículos foram levados embora menos de 15 dias depois do anúncio do fechamento da fábrica de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador. Para quem estava acostumado a sair de lá com o caminhão cheio para atravessar o Brasil, o cenário é outro.
“Aqui acabou. A gente vinha carregado e voltava carregado. Agora só volta vazio agora”, diz o cegonheiro Sebastião Barbosa.
Dos 2.500 cegonheiros que faziam o transporte de veículos da Ford, 98% pararam.
“Quem transporta veículo, só transporta veículo porque é uma carreta específica para aquilo. A partir do momento que ela descarregou seus veículos na loja, ela só pode transportar veículo. Não tem outro tipo de carga”, afirma Márcio Leite, diretor do Sindicato das Pequenas e Micro Empresas e Transportes Rodoviários Autônomo de Veículos do Estado da Bahia (Sintraveba).
Nas concessionárias, carros em exposição, mas poucos clientes. Em algumas, a queda é de 50% nas vendas. A Associação Brasileira dos Distribuidores Ford (Abradif), que representa 283 concessionários no Brasil, entrou com um pedido de indenização. Na capital baiana, são pelo menos 400 pessoas empregadas nas quatro concessionárias.
“Nós estamos em compasso de espera. Como temos outras concessionárias, podemos remanejar a equipe de vendas, gestores, mas a gente não sabe como isso vai ficar”, diz Luís Pimenta, diretor de concessionária.
A decisão de encerrar a produção da Ford no Brasil gerou um efeito dominó, que se reflete em outros setores. A montadora disse que, com o fechamento das unidades no país, cinco mil empregos foram perdidos no Brasil e na Argentina, mas, segundo o Dieese, o impacto da saída da montadora deve ser 20 vezes maior. É que há toda uma cadeia indireta ligada à produção da empresa.
Dos 250 rodoviários que transportavam funcionários para Ford, 150 foram demitidos. Na empresa em que o motorista Danilo Andrade trabalha, foram mais de 60.
“Eu conduzia pelo menos umas 20, 25 pessoas. Só que agora esses dias só estou levando umas duas, três pessoas”, lamenta.
“No mínimo, cada carro que foi tirado do roteiro da Ford, são no mínimo cinco pais de família que perdem seus postos de trabalho”, explica o presidente do Sindicado dos Trabalhadores em Transportes Rodoviários (Sindrod), Mário Santos.
Em um restaurante, duas empresas que prestavam serviço para a montadora cancelaram contratos de almoço. A empresária Fernanda Gomes, que também servia refeição para trabalhadores que atendiam à Ford, viu o movimento despencar e precisou enxugar o quadro de funcionários.
“Infelizmente, uma das primeiras atitudes que a gente deve fazer é redução de mão de obra. Eu estou com duas, mas eu já reduzi. Geralmente o quadro é de quatro pessoas por turno”, afirma Fernanda.
A Ford não quis comentar o pedido de indenização das concessionárias.